O Conselho de Ética da Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro anunciou nesta quinta-feira (9) que vai fazer uma denúncia na Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) sobre as ameaças virtuais que os integrantes do colegiado estão recebendo de seguidores do vereador Gabriel Monteiro (PL).
Na próxima semana, a Polícia Civil vai fazer varredura nos gabinetes dos vereadores para averiguar se foram colocadas escutas nas instalações.
O grande número de ataques virtuais foi a principal motivação para os vereadores decidirem formalizar a denúncia na DRCI. Só a vereadora Teresa Bergher disse que contabilizou mais de 3 mil comentários ofensivos dos seguidores do Gabriel. Já o relator do processo, o vereador Chico Alencar, disse que recebeu mais de 300 ameaças pela Internet.
“São ameaças, em geral, muito baixas, tóxicas, ofensivas, revelando o nível que algumas intercorrencias políticas têm hoje no Rio e no Brasil. Só eu recebi mais de 300. E qual foi o start disso? O próprio vereador Gabriel Monteiro entrou nas nossas redes para falar que estávamos trabalhando com fofoca e que esse relator não tá com nada. Uma coisa boba, mas que sinaliza. Aí entra aquela enxurrada de fãs que não atuam com racionalidade. A Internet é um território, as vezes, sujo. Mas vamos prosseguir. Eles não vão nos intimidar com essa ofensiva”, disse Alencar.
“São seguidores e a gente vai fazer uma denúncia a Polícia Civil para que apure e identifique quem são esses personagens que estão fazendo esse tipo de ameaça. Tem ameaças que a gente sabe que são patéticas, mas aquelas que cada membro do conselho entender que constitui uma ameaça a integridade física, nós vamos fazer a denúncia”, acrescenta o presidente do Conselho, vereador Alexandre Isquierdo (DEM).
O Conselho também anunciou que deve prorrogar o prazo para concluir o processo ético-disciplinar por quebra de decoro contra o vereador.
O ex-policial militar e youtuber é investigado por estupro, assédio e por forjar vídeos na internet.
Segundo o relator do processo, o vereador Chico Alencar (Psol), o colegiado vai votar o pedido por um novo prazo para concluir as investigações. A ideia do grupo é conseguir ouvir todas as testemunhas de defesa.
Segundo Chico Alencar, caso o pedido seja aprovado, o processo deve terminar na primeira quinzena de agosto, visto que os vereadores vão entrar em recesso durante todo o mês de julho.
A ideia para o pedido de prorrogação do prazo surgiu depois que os advogados de Gabriel cancelaram o testemunho de Rafael Sorrilha, empresário acusado pelo vereador de tentar forjar provas para incriminá-lo.
Os advogados consideram que as oitivas de outras testemunhas foram suficientes para reforçar a linha de defesa de que houve furto e compartilhamento dos materiais e informações pessoais do vereador, inclusive vídeos íntimos.
No lugar do empresário, os advogados pediram ao Conselho de Ética que ouça o depoimento de Luís Armond, delegado da 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes). O delegado é o responsável pela investigação do vazamento do vídeo íntimo do vereador com uma menor de 15 anos.
O Conselho de Ética ainda não deliberou sobre o pedido de substituição da testemunha de defesa.
Depoimentos de defesa
Os vereadores do Conselho de Ética fizeram, nesta quinta-feira (9), mais um dia de oitivas do caso Gabriel Monteiro.
Leandro Lima, perito da área criminalista, foi o primeiro depoente a falar. Ele chegou por volta das 13h20 e falou por aproximadamente 1 hora.
Em seguida, os membros do conselho ouviram o policial militar Bruno Novaes Assumpção, que também integra a equipe do vereador na Câmara. Ele prestou depoimento por cerca de 30 minutos.
O primeiro a ser ouvido foi Leandro Lima, contratado pelo youtuber para analisar um vídeo em que o vereador beija o pescoço de uma menina de cinco anos. “O vídeo não é o que está nos autos e o perito foi contratado pelo Gabriel. Então, pouco contribuiu para o processo”, disse o relator Chico Alencar.
Depois foi a vez do policial militar Bruno assunção, que é cedido o gabinete de Gabriel Monteiro e acompanhava as atividades do vereador. Ele estava presente no dia em que foi feito o vídeo com uma menina que foi beijada no pescoço pelo vereador. Mas falou que não presenciou o momento do beijo.
O conselho já ouviu quatro testemunhas de defesa.
“Esses depoimentos não acrescentaram absolutamente nada. São pessoas pegas pele Gabriel, trabalham para ele. Só tentam desqualificar os depoimentos das testemunhas de acusação”, disse Teresa Bergher. As audiências foram restritas aos vereadores do Conselho e advogados de defesa. Não foi permitida a entrada de Gabriel Monteiro para que não houvesse constrangimentos.
Na próxima terça-feira (14), às 13h, serão ouvidos Rafael Murmura Ângelo, Miqueias da Silva Félix Arsênio e Pablo Batista Foligno.