O corpo do jornalista inglês Dom Phillips, assassinado no Vale do Javari, no Amazonas, foi levado para cremação na tarde deste domingo (26) no Cemitério Parque da Colina, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio. A despedida foi reservada às pessoas mais próximas.
A família brasileira e os parentes britânicos do jornalista, irmãos e cunhados, chegaram juntos ao local.
A cidade foi escolhida para o funeral porque é em Niterói que vive a família de Alessandra Sampaio, mulher de Dom.
O governo britânico enviou o representante Anthony Preston.
Sobre o caixão, bandeiras do Brasil e do Reino Unido e uma foto do jornalista, tirada em 2012, para um projeto que desafia a humanidade a rever o conceito de raça e de cor da pele.
Durante o velório, foi ouvida a música brasileira preferida de Dom, “Preta, Pretinha”, dos Novos Baianos, e a música enviada pelos indígenas do Vale do Javari, a mesma que Bruno Pereira canta em um vídeo, gravado na floresta.
Na porta do cemitério, um protesto silencioso questionava quem mandou matar Dom e Bruno.
Dom Philips, de 57 anos, morava no Brasil havia 15 anos. Adorava o país que escolheu para viver e tinha muitos planos.
Em inglês, a irmã Sian Phillips agradeceu o carinho e o amor de todos diante da tragédia.
Ela falou que o irmão e Bruno Pereira morreram porque tentaram contar ao mundo o que estava acontecendo com a floresta e com seus habitantes e que a missão deles colidiu com os interesses dos exploradores ilegais da Amazônia.
Sian contou que Dom e Alessandra planejavam adotar dois filhos brasileiros e que o irmão não teve a chance de mostrar o seu melhor como pai.
Disse ainda que o livro que Dom escrevia sobre a Amazônia vai ser finalizado pela família e pelos amigos porque, mesmo em tempos de tragédia, a história precisa ser contada.
‘País que amava’, diz mulher de Dom
A mulher de Dom Phillips, Alessandra Sampaio, fez um pronunciamento durante o velório e pediu pediu mais segurança para os defensores do meio ambiente para que as famílias deles não passem pela perda que ela e os parentes do indigenista Bruno Pereira estão passando.
Ela também fez questão de dizer que Dom está sendo cremado no país que amava, pelo qual lutou e que escolheu para viver.
“Hoje Dom será cremado no país que amava, seu lar escolhido, o Brasil. O dia de hoje é de luto”, afirmou Alessandra.
Ela ressaltou que a família seguirá atenta a todos os desdobramentos das investigações e que pediu segurança para quem defende o meio ambiente e as famílias.
“Seguiremos atentos a todos os desdobramentos das investigações, exigindo justiça no significado mais abrangente do termo. Renovamos a nossa luta para que nossa dor e a da família de Bruno Pereira não se repitam. Como também as das famílias de outros jornalistas e defensores do meio ambiente, que seguem em risco”, disse a esposa de Dom.
Alessandra pediu que a percepção da importância com o cuidado com o meio ambiente se transforme em atos práticos pela preservação da vida.
“Esse movimento mundial de solidariedade e justiça e de consciência pela conservação da natureza e dos povos que a protegem traz uma imensa esperança a todos nós, eu tenho certeza disso”, afirmou.
Alessandra agradeceu a todos que participaram das buscas pelo marido e pelo indigenista Bruno Pereira. Ela também agradeceu aos profissionais de imprensa na cobrança por transparência nas investigações e mobilização em torno do caso.
“Eu agradeço de coração a todas as pessoas que se solidarizaram com Dom, com Bruno, com nossas famílias e amigos aqui no Brasil e em outros países”, destacou.
A mulher de Dom Philips afirmou que as homenagens finais ao jornalista inglês serão feitas em uma cerimônia restrita aos familiares.
“Dom era uma pessoa muito especial, não apenas por defender aquilo que acreditava como profissional, mas também por ter um coração enorme e um grande amor pela humanidade. Vamos celebrar a doce memória de Dom e a sua presença em nossas vidas”, disse Alessandra.
Dom e o indigenista Bruno Pereira foram vistos pela última vez em 5 de junho, enquanto faziam uma expedição na região do Vale do Javari, no Amazonas.
Os corpos dos dois foram encontrados no dia 15. Laudos periciais confirmaram que eles foram mortos a tiros, com munição de caça.
Três homens já foram presos por terem participação no crime. Segundo a Polícia Federal, outros cinco homens que ajudaram a enterrar os corpos de Bruno e Dom na mata foram identificados.
Além disso, nesta quinta, um homem se apresentou à polícia em São Paulo dizendo que participou dos assassinatos.
A perícia apontou que Bruno foi atingido por três disparos, dois no tórax e um na cabeça. Já Dom foi baleado uma vez, no tórax.
A motivação do crime ainda é incerta, mas a polícia apura se há relação com a atividade de pesca ilegal e tráfico de drogas na região.
Segunda maior terra indígena do país, o Vale do Javari é palco de conflitos típicos da Amazônia: desmatamento e avanço do garimpo.