A Polícia Civil do RJ e o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) prenderam nesta terça-feira (24) o contraventor José Caruzzo Escafura, o Piruinha. O bicheiro de 93 anos é investigado por um assassinato, em julho do ano passado, em Vila Valqueire, na Zona Oeste. Outros dois homens foram presos, entre eles o PM Jeckson Lima Pereira, segurança do bicheiro.
Segundo o diretor da Delegacia de Homicídios, Alexandre Herdy, foram cumpridos 20 mandados de busca e apreensão. Dos três mandados de prisão expedidos pelo 3º Tribunal do Júri, dois foram cumpridos contra Piruinha e Jeckson.
A filha de Piruinha, Monalisa Escafura, não foi encontrada e já é considerada foragida pela polícia.
Num dos endereços de mandado de apreensão, a polícia prendeu Lúcio Fernando Camargo, com uma arma não registrada. E um outro homem foi detido com um carro Mini Cooper roubado.
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Segundo as investigações, a mando de Piruinha e da filha , o PM executou Natalino José do Nascimento Espíndola, conhecido como Neto, dono de uma loja de carros.
O MPRJ afirma que o homicídio de Natalino “foi por motivo torpe”. “A vítima foi executada como forma de punição pelo fato de não ter pago uma dívida, estimada pelo contraventor e a filha em cerca de R$ 500 mil. A execução de Neto foi decidida quando eles perceberam que não iriam receber o dinheiro.
Natalino foi executado numa emboscada quando ia a pé para a sua loja de veículos, na Estrada Intendente Magalhães, esquina com a Rua Nova do Amorim.
De acordo com as investigações iniciadas em julho do ano passado logo após a morte de Neto, a vítima vinha sendo extorquida por Piruinha e Monalisa. Os três eram sócios em empreendimentos imobiliários pela cidade.
A promotora Roberta Laplace, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ) contou que, quando os empreendimentos começaram a não dar o retorno financeiro desejado por Monalisa e o pai, eles passaram a extorquir Neto e um quarto sócio no negócio. Neto então, procurou o Ministério Público.
“Eles extorquiam Neto e o outro sócio, na tentativa de reaver o dinheiro que eles haviam investido no negócio e que achavam que lhes era devido. Era praxe para Monalisa expulsar de casa as pessoas para que ela pudesse dispor financeiramente do imóvel. Ela tomou um imóvel de Natalino em Vargem Grande, e colocou na casa um de seus aliados”.
“Ela também expulsou à força a família do outro sócio do apartamento dele em Jacarepaguá e colocou um de seus seguranças lá. Também pegou um veículo do sócio e colocou uma pessoa de confiança na empresa e com isso pegava para ela todo o dinheiro que entrava no empreendimento”, contou a promotora.
O diretor do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), delegado Henrique Damasceno, explicou que a investigação o assassinato de Neto levou ao contato com o Ministério Público. O MP já investigava a organização criminosa comandada por Piruinha e Monalisa, a partir das denúncias feitas por Neto. A partir daí, começou o trabalho conjunto.
“Graças a esse esforço conjunto que começou em julho do ano passado, conseguirmos elucidar esse caso por completo e efetuar uma das principais prisões de chefes da contravenção. Prendemos o bicheiro e seu segurança e continuamos nas investigações para prender Monalisa”, disse Damasceno.
O que foi apreendido
Nos endereços onde foram cumpridos os mandados de busca e apreensão – incluindo a casa de Piruinha e do PM Jeckson – a polícia pegou documentos, agendas e mais:
- nove celulares
- três laptops
- quatro munições calibre 32
- um pen drive
- um DVR
- um automóvel Corolla
- dois anéis dourados
- dois cordões dourados
- duas pulseiras douradas
- dois relógios Rolex
- duas máquinas de cartão
- um tablet
- R$ 180 mil em espécie
O carro de Jeckson utilizado na execução de Neto foi apreendido no 15º BPM (Duque de Caxias), onde ele está lotado, e levado para a Delegacia de Homicídios, na Barra da Tijuca. No dia do crime, o PM usou uma placa fria no carro.
O promotor Bruno Gangoni disse que a idade elevada de Piruinha não representa impedimento algum para a sua prisão.
“Ele pode ficar preso, sim, se não houver nenhum problema de saúde. Se com essa idade ele pode empreender atos criminosos, também pode responder judicialmente por eles”, disse Gangoni.
- Quem é José Caruzzo Escafura, o Piruinha, um dos chefes do jogo do bicho no Rio
Quem é Piruinha
O MPRJ descreve Piruinha como “um notório contraventor da cidade do Rio de Janeiro”.
“[Piruinha] exerce, há décadas, o domínio do jogo do bicho em diversas regiões da cidade, em especial nos bairros de Madureira, Abolição, Cascadura, Maria da Graça, Piedade e Inhaúma”, detalha.
“Piruinha ainda arrenda outras áreas para exploração de jogos de azar para outros contraventores, dentre elas as divisas com os bairros de Cascadura, Piedade, Pilares, Abolição, Quintino, Campinho e a divisa com a Praça Seca”, emenda.
O bicheiro também foi investigado por uma suposta ligação com uma quadrilha de abortos clandestinos.
Em junho de 2017, Haylton Carlos Gomes Escafura, filho de Piruinha, foi encontrado morto em um hotel na Barra da Tijuca, ao lado da mulher, a policial militar Franciene de Souza.
Para a polícia, o motivo da execução foi a disputa pelos pontos de venda de máquinas caça-níqueis.
Haylton chegou a ser condenado a 14 anos por envolvimento com o jogo do bicho.