Sete brasileiros, a maioria jogadores e equipe técnica do time do Al-Merreikh, clube de futebol no Sudão, chegaram ao Rio, na manhã desta sexta-feira (28). Eles saíram do país, que está mergulhado em um conflito armado entre o exército e grupos paramilitares.
“Foram dias de medo, de angústia. Mas, graças a Deus, foi tudo certo. Estou bastante cansado, exausto. A luta ainda não acabou. Ainda tem 3 meninos lá. A gente está em contato direto para que o Itamaraty faça alguma coisa por eles, já que não fez por nós. Lá começou muito pesado e ainda continua. Mas conseguimos sair de lá pelos nossos próprios meios”, afirmou o jogador Paulo Sérgio, ao desembarcar no aeroporto Aeroporto Internacional Tom Jobim.
Desde o início da manhã, familiares dos brasileiros aguardavam pela chegada no saguão do Galeão. “A gente viu a demora para chegar e depois a dificuldade para sair. A gente estava com as mãos atadas. Estávamos sem saber o que fazer. Estávamos em oração para que ele saísse daquele inferno.”, Leandro Barranco Ferreira, sobrinho do técnico Heron Ferreira.
Os atletas saíram do Sudão em um micro-ônibus fretado pelo time, depois do campeonato do país ser interrompido por causa dos confrontos e bombas. Eles aproveitaram um cessar-fogo de 72 horas.
“Quando a gente acompanha pela TV é uma coisa, quando a gente passa, efetivamente, esses problemas na pele é outra situação. Uma coisa que eu preciso dizer é que o Itamaraty precisa se preparar mais. Por trás disso já vidas e famílias que sofrem e choram e pedem socorro sem serem ouvidas por ninguém”, afirmou Itamar Rodrigues da Silva, treinador de goleiros.
O grupo afirmou que não recebeu auxílio do Itamaraty. A jornada em direção a fronteira durou 24 horas. Eles conseguiram atravessar a fronteira com o Egito na última segunda (24). De lá, os brasileiros foram para Londres e, então, conseguiram voltar ao Brasil.
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O primeiro grupo de pessoas que estava no Sudão desembarcou no Brasil na quinta (27), no Aeroporto Internacional de Guarulhos. O voo partiu de Doha, no Catar.
O conflito
Iniciados no dia 15 de abril, os combates na capital do Sudão, Cartum, e nas cidades vizinhas de Omdurman e Bahri são os piores em décadas. Especialistas temem que o conflito divida o país entre as duas facções militares que compartilharam a liderança sudanesa durante a transição política nos últimos anos.
Estes grupos são:
- O exército, liderado pelo general Abdel-Fattah al-Burhan, que é comandante das forças armadas;
- Um grupo paramilitar, comandado pelo general Mohammed Hamdan Dagalo, que é chefe das Forças de Apoio Rápido (RSF).
Em 2021, as duas facções, então aliadas, orquestraram um golpe militar no país, que passava por um período de instabilidade desde 2019, quando o então líder do país, Omar Bashir, foi destituído do poder após protestos generalizados. Com isso, al-Burhan passou a liderar um conselho de governo e Dagalo, conhecido como Hemedti, se tornou seu vice.
No entanto, desde então, diversos atritos surgiram entre os grupos, principalmente quanto à integração da RSF nas forças armadas e na futura cadeia de comando. Além disso, as facções divergem acerca do apoio a partidos políticos e a grupos pró-democracia.